Tradição cultural da continuidade dos negócios entre as gerações, confiança e valores compartilhados são elementos por trás de negócios familiares bem-sucedidos


No Brasil, um dado estatístico revela uma marcante característica do cenário empresarial: 90% das empresas têm perfil familiar, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além de representarem mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país, as empresas familiares também são responsáveis por empregar cerca de 75% da mão de obra nacional.

Diversos fatores podem contribuir para a prevalência das empresas familiares no Brasil. Um dos principais motivos reside na tradição cultural da continuidade dos negócios entre as gerações. A confiança mútua, valores compartilhados e a busca pela preservação do patrimônio familiar são elementos que impulsionam essa preferência. Por conta dessa lealdade e comprometimento com a continuidade dos negócios, a grande maioria das organizações familiares encontram uma maior estabilidade.

Apesar de natural, essa tradição de transmitir empresas de uma geração para outra é percebida pelo empresário João Paulo Matos como um processo que demanda preparação e planejamento estratégico. “Para que esse processo de sucessão familiar aconteça com êxito, a geração anterior precisa ir guiando o caminho ao longo dos anos, apresentando aos sucessores o funcionamento técnico e operações daquela empresa, e treiná-los para que possam estar capacitados para resolver qualquer problema”, afirma.

Começar de baixo é o principal a se fazer para garantir o sucesso. “É um diferencial enorme quando os herdeiros conhecem e dominam o negócio desde a base de seu funcionamento. Com isso, a nova geração vai ocupando seu próprio espaço ali dentro, entendendo o que precisa ser feito e melhorado em cada área. Não tem como esperar que vá dar certo colocar para assumir uma pessoa que não compreende nada do que está acontecendo na empresa.”

O empresário também destaca a importância do cultivo do desejo da próxima geração de assumir a responsabilidade. “Despertar essa vontade e comprometimento com o propósito da empresa em seus sucessores é essencial. Não deve ser apenas uma transição por falta de opção. Quando o foco é apenas preencher uma cadeira e não levar para um próximo patamar tudo aquilo que as gerações anteriores já conquistaram, muitas empresas acabam encontrando dificuldades.”

Estabelecer protocolos claros para a sucessão e promover a transparência das decisões futuras é outro diferencial para garantir uma boa sucessão. O advogado Henrique Esteves, especialista em direito empresarial, pontua o acompanhamento técnico de um advogado nesse processo.

“O empresário hoje em dia busca segurança jurídica e previsibilidade, principalmente na hora de passar o negócio adiante.

Um bom advogado pode auxiliar no planejamento do quadro societário da empresa, colocar em contrato qual papel cada familiar vai executar, alinhar as metas para os próximos 10 anos da empresa, mediar acordos e muito mais.”

Esse planejamento da sucessão é importante não somente para guiar os próximos, como para assegurar a produção e estabilidade da empresa.

“Quando você coloca uma empresa em risco, também está colocando em risco todo o impacto positivo que ela gera na sociedade, como a promoção de empregos e desenvolvimento social da região, além de todos tributos arrecadados”, finaliza o advogado.

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