O potencial terapêutico da maconha tem impulsionado o mercado canábico nacional
A maior expectativa para 2023 é a consolidação de uma abordagem mais inteligente e madura capaz de lidar com as múltiplas possibilidades da cannabis, sem estigmas ou preconceitos. O potencial terapêutico da maconha tem impulsionado o mercado canábico nacional, porém é urgente modificar a postura proibicionista que restringe o acesso total aos benefícios da planta.
A demanda crescente estimula novas formas de como a sociedade pode se relacionar com as características únicas da cannabis – o mercado lícito já é uma realidade. Quanto ao uso medicinal, são quase 190mil pacientes registrados neste ano, segundo dados da Kaya Mind. Os hempreendimentos na área de saúde estão em destaque, por exemplo associações sem fins lucrativos, laboratórios fitoterápicos, formação de prescritores e o primeiro dispensário do país.
Quanto ao aspecto social/recreativo, estamos acompanhando o surgimento de headshops e growshops, além de negócios especializados em equipamentos e acessórios de nicho. Em conformidade com a lei, produtos e serviços focados nas vantagens nutricionais e de suplementação da cannabis existem, mas ainda são tímidos. E a concretização das potencialidades agro e industrial infelizmente ainda é apenas um sonho.
No Executivo e no Judiciário também é perceptível a adoção de outras maneiras de tratar a cannabis. As regulamentações e atualizações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para estabelecer os critérios de produção e comercialização de produtos demonstram isso, bem como as recorrentes decisões favoráveis ao cultivo pessoal de maconha e às atividades de comércio de sementes de cannabis em pequena quantidade.
O Legislativo avança aos poucos – a nível estadual, acompanhamos a aprovação de normas pela garantia do acesso medicinal. Falta, no entanto, a revisão da política nacional de drogas e retirada do rótulo de planta proscrita.
O fato é que, em 2023, é preciso caminhar passos mais claros quanto à legalização e regulamentação de todos os usos da cannabis. Não faz sentido priorizar apenas o medicinal – a planta é uma só e insistir na limitação impede avanços sociais, científicos, tecnológicos e econômicos. Movimentos internacionais também provocam essa necessidade de ampliação do debate com a chances reais de confirmação da legalização total da cannabis na maioria dos estados dos Estados Unidos, na Alemanha, na Suíça e na Colômbia.
O diálogo é sempre a melhor ferramenta e estamos à disposição para contribuir com os parlamentares e o governo. O objetivo é permitir o uso global da planta em respeito aos usuários, proporcionando a profissionalização do mercado e desenvolvimento econômico.
Fernando Finger Santiago é Consultor de Negócios de Cannabis, especialista de Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, Bacharel em Direito pelo UniCEUB e Presidente do Clube Social de Cannabis do Distrito Federal.