Cartão vermelho deve ser dado ao preconceito, diz ministra do MRE
A ministra das Relações Exteriores substituta, a embaixadora Maria Laura da Rocha, considerou abjetos os atos de racismo contra o jogador de futebol brasileiro Vini Jr, atacante do clube espanhol Real Madrid, ocorridos nesse domingo (21).
A embaixadora destacou a recorrência dos atos de racismo. “Espanta a persistência dos crimes que são cometidos contra o atleta brasileiro, contra todos os afrodescendentes, e sim, contra toda a humanidade a cada cântico e a cada gesto racista lançado contra o jogador”.
A declaração foi dada pela embaixadora Maria Laura nesta segunda-feira (22), durante a abertura do seminário Brasil-África: relançando parcerias, no Palácio Itamaraty, em Brasília. O evento faz parte das comemorações do Dia da África, na próxima quinta-feira (25). Sobre a expulsão do jogador brasileiro ao se envolver em uma confusão generalizada em campo, durante o jogo entre os times espanhóis Real Madrid e Valência, no Estádio Mestalla, a ministra do MRE substituta lamentou o ocorrido a uma plateia formada, sobretudo, por representantes de países africanos. “Ontem, na partida, Vinícius Junior levou um cartão vermelho por não ter aguentado tudo aquilo. Lamento muitíssimo”.
Apoio de autoridades
Desde o ocorrido, o atleta tem recebido apoio de autoridades do Brasil, personalidades do esporte e colegas do clube espanhol.
O governo brasileiro divulgou, no início da tarde desta segunda-feira (22), nota conjunta à imprensa de repúdio aos ataques racistas. Assinam a nota os Ministérios das Relações Exteriores, da Igualdade racial, da Justiça e Segurança Pública, do Esporte e dos Direitos Humanos e da Cidadania.
O governo federal lamentou profundamente ao governo da Espanha que “até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo”.
E cobrou urgência na adoção de medidas sobre a recorrência dos casos de racismo cometidos contra atleta, naquele país. “Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos.”
As instituições citadas no texto são a Federação Internacional de Futebol (Fifa), a Federação Espanhola e LaLiga. No documento, o governo brasileiro esclareceu que atua em cooperação com o governo da Espanha para coibir, reprimir e promover políticas de igualdade racial e compartilhar conhecimento e boas práticas para ampliar o acesso de pessoas afrodescendentes e imigrantes ao esporte, mas sem tolerância a toda e qualquer ato de discriminação.
Os ministérios terminam a nota dando apoio ao aperfeiçoamento das melhores práticas internacionais para promover a prevenção e o combate ao racismo e a qualquer tipo de discriminação nas diferentes modalidades de esportes.
Em publicação em rede social, neste domingo, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, cobrou uma postura mais firme de entidades esportivas, governos, da imprensa e de patrocinadores. Silvio Almeida criticou a posição do presidente de La Liga, Javier Tebas. “Em vez de se solidarizar com Vini Júnior, o presidente de La Liga resolve atacar o atleta pelas redes sociais. Para além do destempero do cartola, seria o caso de se perguntar como as empresas que patrocinam a La Liga se posicionam”, afirmou o ministro.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, prestou solidariedade ao jogador atacado e exigiu ações concretas dos empresários que financiam eventos futebolísticos. “Isso é deplorável, inaceitável e deve ter consequências. Espero que essas empresas façam alguma coisa de sério e efetivo sobre o inaceitável e reiterado racismo contra Vinicius Júnior”.
O Ministério da Igualdade Racial afirmou em seu perfil no Twitter que o Brasil vai notificar oficialmente as autoridades espanholas e a La Liga, responsável pelo torneio de futebol profissional espanhol. “O Governo brasileiro não tolerará racismo, nem aqui, nem fora do Brasil! Trabalharemos para que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências”. A ministra Anielle Franco indignou-se: “Inaceitável! O peito chega aperta de tanta indignação! Até quando teremos que lidar com isso!? Chega de racismo!”
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, no Twitter, considerou inaceitáveis os ataques racistas sofridos por Vini Junior. “O racismo deve ser combatido ativamente e rechaçado em todos os cantos do mundo”.
Liga
Em nota, a La Liga, liga de futebol profissional de clubes da Espanha, informou que solicitou todas as imagens disponíveis para investigar o ocorrido. “Concluída a investigação, caso seja detectado um crime de ódio, a La Liga passará a tomar as medidas legais cabíveis”.