Com protagonismo feminino, a Embaraça movimenta a cena teatral há 10 anos com trabalhos de pesquisa e criação autoral que amplificam histórias pouco representadas


Onde estamos e o que nos afeta? Respostas a esses questionamentos estão na base e são o que impulsiona e atravessa os processos criativos de Fernanda Jacob e Tuanny Araujo, fundadoras de Embaraça. Duas protagonistas interdisciplinares que assinam concepção, direção, dramaturgia e coordenam a condução de montagem das obras. Traço que coloca a companhia em destaque por manifestar uma realidade incomum – a de duas mulheres negras no comando.

Comemoração dos 10 anos

Para marcar os 10 primeiros anos da Companhia, Tuanny Araujo e Fernanda Jacob apresentam um recorte do repertório em curtas temporadas das peças “Afeto” e “Ramal 003”, entre os dias 6 e 22 de setembro, nos Teatros do SESC Paulo Autran e Ary Barroso.

Diretoras, atrizes e dramaturgas Fernanda Jacob é graduada em Artes Cênicas pela UnB e indicada ao Prêmio Bibi Ferreira, na categoria “Melhor atriz em musicais”, ao interpretar Dona Ivone Lara em “Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro”, e Tuanny Araujo, mestra em Artes Cênicas pela UnB, foi ganhadora, em 2023, do “Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres” com seu livro de crônicas Preta Lucidez.

Esta breve circulação dos espetáculos conta com os apoios do SESC DF e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do DF, tem produção da Carvalhedo produções e é realizada com fomento do Ministério da Cultura, via Lei Paulo Gustavo.

Realidades encenadas

Em meio aos processos de pesquisa, escuta e investigação, Fernanda e Tuanny percorrem vivências de mulheres negras, com foco em tornar o material levantado em obra de ficção e direcioná-lo para a cena. Onde, fazendo uso de uma pluralidade de linguagens cênicas, provocam mergulhos em histórias, gravadas na intimidade, e estimulam reflexões.

A Embaraça iniciou sua trajetória em Brasília no ano de 2013, quando o protagonismo de atrizes negras e atores negros na cena local ainda era escasso. Desde então, “estamos trabalhando para transformar este cenário com um trabalho contínuo, profundo e que amplifica nossas histórias, ainda tão pouco representadas nos palcos e que precisam ser contadas”, relata Fernanda Jacob.

Repertório e representatividade

Com um repertório de seis montagens: “Pentes”, de 2015; “Calamatraca”, de 2016; “Ramal 003”, de 2017; “Afeto”, de 2019 e “Abelhas-Rainhas”, de 2020, a companhia vem se apresentando por todo o DF e em outras Unidades da Federação em temporadas e festivais. A exemplo do Festival Breves Cenas de Teatro de Manaus, em 2013, quando recebeu prêmio pela Abordagem Temática Através da Cidadania e Identidade; Festival do Teatro Brasileiro Cena DF etapas Belo Horizonte, em 2017, e Salvador, em 2022; Mostra de Teatro Afrocena de Goiás, em 2018; e Cena Contemporânea, nos anos de 2017 e 2022; e ODU | Festival de Arte Negra, nos anos de 2021 e 2023, ambos no Distrito Federal. Reconhecimento que insere o grupo na multiplicidade artística e estética que representa o Centro-Oeste em outras Regiões.

“Afeto” e “Ramal 003” em curtas temporadas

Duas obras ficcionais, pinçadas do repertório da Companhia, exprimem a versatilidade dos processos criativos de Tuanny e Jacob, bem como sintetizam as mensagens que as artistas buscam refletir em suas obras ficcionais.

Em “Afeto”, que fará temporada de 6 a 8/9 no Teatro Paulo Autran, do SESC Taguatinga, duas mulheres negras compartilham seus afetos, reivindicam suas humanidades, vislumbram novos horizontes e constroem memórias. A dramaturgia tem como pano de fundo relações de afeto fragilizadas por comportamentos racistas.

“Desde os contextos da infância, adolescência e vida adulta, diversas mulheres negras têm relatos de como suas relações com afeto foram atingidas pelo chamado ‘gosto’, que diz muito sobre escolhas e empatia, uma vez que vivemos em uma sociedade que tem como base padrões embranquecidos”, aponta Tuanny. “O que é considerado bonito, admirável e acolhido tem cor.”, complementa Fernanda.

Logo, o espetáculo se estrutura personificando as histórias levantadas pelas criadoras para denunciar e informar essa prática. “Afeto” busca resgatar, através da poesia da cena, a subjetividade e humanidade destas mulheres e oferecer horizontes para ressignificar suas memórias.

Mudando o tom, sem perder profundidade, as atrizes-dramaturgas lançam mão da comédia para tratar com naturalidade a possibilidade de uma Mulher Preta, uma Deusa Preta, estar no comando do Universo na peça “Ramal 003”. “Acreditamos que poucas pessoas vislumbram essa possibilidade. Então, criamos uma narrativa que trata esse tema assim, por meio do riso, onde a crítica e o discurso são mais acessíveis”, explica Jacob.

O espetáculo é ambientado em um secretariado celestial comandado por Carmen e Dorotéia, responsáveis pelo Setor Planeta Terra, de onde auxiliam a Deusa no comando e supervisão do universo. Nessa narrativa ficcional, o foco não é um tema que atravessa a negritude explicitamente, e sim, como as personagens conduzem a história que é contada. As protagonistas formam uma dupla de contraste, que possibilita um jogo cômico com princípios da palhaçaria.

Serviço

Repertório Companhia Embaraça – 10 Anos

Afeto

Local: Teatro Paulo Autran – SESC Taguatinga

Endereço: Taguatinga Norte, CNB 12, Área Especial 2/3

Temporada: de 6 a 8/9, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h

Ingressos: R$ 10 (meia entrada)

Bilheteria: https://www.sympla.com.br/evento/afeto/2608092

Classificação indicativa: não recomendado para menores de 16 anos

Duração: 75 minutos

Ramal 003

Local: Teatro Ary Barroso – SESC Estação 504 Sul

Endereço: CRS 504/505 – Asa Sul

Temporada: de 20 a 22/9, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h

Ingressos: R$ 10 (meia entrada)

Bilheteira: https://www.sympla.com.br/evento/ramal-003/2608117

Classificação indicativa: livre para todos os públicos

Duração: 60 minutos

Mais informações: https://www.instagram.com/grupoembaraca/

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