Com a pandemia de COVID-19, voar de avião se tornou uma experiência mais complexa: agora, é preciso usar máscara, apresentar atestado médico e passar várias horas nos controles antes de embarcar em aviões com equipes altamente protegidas.

Em tempos de coronavírus, o transporte aéreo sofre uma mudança ainda mais profunda do que aquela resultante dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

“Antes da pandemia, era preciso chegar duas horas mais cedo. Agora, você precisa chegar ao aeroporto pelo menos quatro horas antes”, diz Suyanto, passageiro de um voo doméstico na Indonésia, no final de maio.

Mesmo antes de se registrar, ele teve de esperar em várias filas de controles e provar que não estava doente com COVID-19.

“Foi uma experiência mais exaustiva e mais cara. Com essas regras rígidas, acho que as pessoas vão pensar duas vezes antes de viajar”, avalia este homem de 40 anos, que teve de pagar duas vezes mais caro pela passagem, enquanto a empresa podia encher apenas metade dos aviões.

Controle de documentos no aeroporto Sukarno-Hatta, em Tangerang, perto de Jacarta, em 4 de junho de 2020© ADEK BERRY Controle de documentos no aeroporto Sukarno-Hatta, em Tangerang, perto de Jacarta, em 4 de junho de 2020
O setor está procurando soluções para reduzir os riscos à saúde, mas observadores alertam que o impacto da pandemia será profundo.

“O 11 de Setembro mudou as condições do setor como um todo no que diz respeito à segurança”, explica Shukor Yusof, especialista em aviação da consultoria Endau Analytics.

Mas o coronavírus representa um “desafio muito mais profundo (…) e um acontecimento mundial”, compara.

A Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) definiu as novas regras sanitárias para embarcar em um avião, incluindo o uso obrigatório de máscara, controle de temperatura, ou desinfecção de superfícies.

Controle de temperatura na zona de embarque do aeroporto Tianhe, em Wuhan, China, em 29 de maio de 2020© Hector RETAMAL Controle de temperatura na zona de embarque do aeroporto Tianhe, em Wuhan, China, em 29 de maio de 2020
Já a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA) sugere o controle dos passageiros antes da viagem e deseja restringir o acesso aos aeroportos a profissionais e viajantes.

 

Controle de temperatura na zona de embarque do aeroporto Tianhe, em Wuhan, China, em 29 de maio de 2020

 

Os aeroportos devem facilitar a circulação dos passageiros, acelerar o embarque e a recuperação da bagagem e “proibir as filas de espera no banheiro” para garantir a distância física.

“A COVID-19 é o maior distúrbio da história da aviação. E sua recuperação será longa e progressiva”, diz o porta-voz regional da IATA, Albert Tjoeng.

Na Índia, onde os voos internos foram retomados nesta semana, os membros da tripulação usavam roupas de proteção, visores e luvas, mas, segundo a imprensa local, eles não tinham ideia de onde teriam de passar a quarentena após os voos.

A questão de deixar, ou não, assentos vazios entre os passageiros divide o setor.

A Japan Airlines e a Delta tomaram essas medidas, mas o presidente da companhia aérea irlandesa Ryanair, Michael O’Leary, considera isso uma ideia “idiota” que os levará à falência.

Prevendo mais de 84 bilhões de dólares em perdas para este ano, a IATA detectou começou a detectar alguns sinais de recuperação, com mais voos em abril e maio, mas ainda muito distante do nível anterior ao coronavírus.

Ainda pouco harmonizadas, as novas regras dificultam prever quando tirar férias no exterior. Além disso, muitos países ainda proíbem a chegada de não residentes, ou exigem quarentena.

Alguns países que conseguiram controlar a propagação do vírus, como Austrália e Nova Zelândia, estão buscando criar “bolhas”: acordos de reciprocidade, que facilitem as viagens entre zonas seguras.

China e Singapura instituíram “vias prioritárias” para alguns deslocamentos por negócios, ou oficiais. Ainda assim, muitos poderão optar por não viajar neste momento.