No Centro de Atenção Psicossocial II do Paranoá, as atividades ocorrem todas as quintas. Pacientes do projeto Arte e Expressão, realizado desde 2013 por equipe multidisciplinar, expõem aquarelas
Nise da Silveira, médica brasileira expoente no trato da saúde mental, dizia que “a criatividade reúne em si várias funções psicológicas importantes para a reestruturação da psique. O que cura, fundamentalmente, é o estímulo à criatividade”. Seguindo essa máxima, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do DF oferecem diversas oportunidades de arteterapia como ferramenta terapêutica para promover bem-estar aos pacientes.
No Caps II do Paranoá, desde 2013, o projeto Arte e Expressão é desenvolvido por equipe multidisciplinar com atividades voltadas para trabalhos manuais em diferentes linguagens artísticas e com diversos materiais. Os pacientes dedicam as tardes das quintas-feiras para a produção de colagens, argila, aquarelas, botânica artística e desenhos, por exemplo.
Com foco especial em pinturas de aquarela neste semestre, os 25 participantes da iniciativa expuseram seus trabalhos para familiares, profissionais de saúde e comunidade local na exposição Tempo.
A oficina Arte e Expressão ocorre todas as quintas-feiras, das 14h às 16h. Ela é voltada para os usuários que já são atendidos pelo Caps II do Paranoá
“Usar a arte como mediadora é uma excelente ferramenta para que eles possam expressar o que estão sentindo, vivendo e desejam compartilhar, mas muitas vezes não conseguem verbalizar”, explica a estagiária em psicologia no Caps II, Vanessa DiGiorno. Também artista plástica e professora de artes, ela dedicou o período de prática no centro para incorporar mais técnica aos pacientes, de modo que pudessem compreender todo o processo.
Dessa forma, os pacientes passaram pelo ciclo completo de uma produção de arte: escolheram um tema, buscaram referências, fizeram rascunhos e depois executaram a obra final. Em sua obra intitulada Evolução, o paciente Carlos Daniel de Souza, de 22 anos, buscou representar o ciclo de vida entre o nascer, o desenvolver e o evoluir, uma espécie de representação do que ele enxerga para a própria história. “A oficina foi o primeiro lugar onde eu senti liberdade para expressar a minha imaginação.”
Opinião compartilhada por Nicolly Silva. Ela conta que, desde 2022, passou por várias mudanças, recebendo diferentes diagnósticos até chegar a um mais conclusivo de indicativo de esquizofrenia. Assim, decidiu retratar em sua obra todo o percurso pelo qual passou. “Metamorfose mostra nuvens virando fumaça como uma espécie de mudança de estado, uma representação de como me senti. Quando comecei a participar das oficinas no Caps, minha vida mudou”, declara.
Perfil dos pacientes
De acordo com a supervisora do Caps II do Paranoá, Ana Maria Vieira, a maioria dos usuários que frequentam as oficinas tem maior comprometimento físico e cognitivo e grande parte possui diagnóstico de esquizofrenia. “Os pacientes vão perdendo a capacidade de socializar e os encontros semanais geram oportunidade de contato com novas pessoas e de criar outros vínculos.”
O trabalho desenvolvido no centro é estratégico na atenção à saúde mental e ao cuidado com o usuário. Residente de Serviço Social no local, Emy Nayana Pinto explica que a ideia da ação semanal é proporcionar diferentes estímulos aos pacientes. “A abordagem é multifatorial e buscamos englobar os aspectos cognitivo, motor e social com os usuários. É visível o desenvolvimento dos usuários”, avalia.
A oficina Arte e Expressão ocorre todas as quintas-feiras, das 14h às 16h. Ela é voltada para os usuários que já são atendidos pelo centro. O Caps II acolhe pessoas com demandas espontâneas ou encaminhadas por outro dispositivo da rede pública de saúde ou da Rede Intersetorial. Não há necessidade de agendamento prévio e o paciente será acolhido por profissional que fará a classificação e o direcionamento do caso. O Caps II do Paranoá está localizado na Quadra 02, conjunto K, AE 1, Setor Hospitalar do Paranoá e funciona de 7h às 18h, de segunda a sexta-feira.