Artistas e professores de Brasília contam como usam manifestações populares para preservar passado
O Dia do Folclore brasileiro é comemorado nesta quinta-feira (22). Apesar da tradição, será que as pessoas ainda lembram das histórias que fazem parte do identidade do Brasil? Quem nunca ouviu falar no Saci ou dançou quadrilha? Essas representações fazem parte do vasto e rico conjunto de manifestações populares que também é conhecido como folclore, explica o escritor Edson Carneiro.
Folclore em quadrinhos
Em Brasília, grupos que vieram do Norte do país para a “nova capital” contribuem para manter o folclore vivo. O Boi de Seu Teodoro de Sobradinho, o Seu Estrelo e o Fuá de Terreiro, e Martinha do Coco com suas rodas de samba no Paranoá são alguns exemplos.
Mas o quadradinho também tem sua própria história. A quadrinista brasiliense Lorena Herrero estuda há mais de 7 anos. Grande parte do estudo dela surgiu como inspiração para a história em quadrinhos “Sétimos Filhos”, em que a artista busca valorizar a cultura popular e trazer profundidade a lendas não tão conhecidas.
Os protagonistas da história são bruxas e lobisomens brasileiros. A ideia é fugir do que aprendemos da cultura americana, que está tão enraizada na nossa mente. O nome “Sétimos Filhos” vem da lenda que diz que todo sétimo filho do sexo masculino de um casal vira lobisomem. Para Lorena, o folclore nunca deixou de ter relevância. A quadrinista acredita que as pessoas se referem ao folclore sem perceber a origem de tais elementos.
“Entender essas coisas como cultura popular é bom para tirar a ideia de que o folclore é antiquado, que parou no tempo. Folclore é justamente essas coisas que estão no nosso cotidiano hoje e fazem parte da nossa vida”, ressalta Lorena.
Folia de Seu Estrelo
Considerado Patrimônio Imaterial do DF, Seu Estrelo e Fuá de Terreiro comemora 20 anos de existência. Em 2004, a ideia de Tico Magalhães era trazer uma brincadeira popular e uma tradição para a capital do país.
O samba pisado e as fantasias brilhantes, idealizado pelo grupo, é atualmente referência no país e material de estudo dos alunos de escola pública do DF. Seu Estrelo inventou sua própria mitologia e a propagou para uma nova geração de brasilienses.
“Ter virado patrimônio é reconhecimento de um trabalho e de uma resistência. É muito bom ver a cidade se reconhecer através de uma brincadeira, que se torne um estímulo para Brasília criar suas próprias tradições”, ressalta o idealizador do grupo, Tico Magalhães.
Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro leva elementos do cerrado para o imaginário popular — Foto: Bruno Jungmann
Tico acredita que a relevância do folclore, das suas lendas, músicas e danças consegue ultrapassar a ficção. “A importância do Folclore é a gente entender que a vida é feita do real, mas também do imaginário. Por esse imaginário nos podemos mudar nossa realidade”, reforça o músico.
Lenda do Boi-Bumbá como forma de aprendizado
Em Taguatinga, o boi-bumbá e a tradicional festa comemorada no Norte e Nordeste do país também seguem viva. Professores do Centro de Ensino Especial (CEE) 01 usam a lenda para auxiliar na aprendizagem dos alunos.
O projeto, hoje no comando da professora Ana Lúcia Moraes, existe desde o surgimento da escola, com o objetivo de enaltecer a cultura brasileira e ensinar valores aos alunos por meio da arte. A escola, que atende alunos PCDs de várias faixas etárias, é conhecida por apresentar o boi-bumbá em outras instituições do DF.
Os professores acreditam que a lenda do boi-bumbá aumentou a autoestima dos alunos que, por meio das apresentações, se sentem confiantes para enfrentar as adversidades do dia a dia. Segundo Ana Ester Soares, vice-diretora da CEE 01, é fundamental o uso da arte e da cultura para ensinar valores para os estudantes.
“Temos que resgatar o folclore, dar valor para a cultura brasileira, para o que é nosso. A arte tem o poder de mudar o mundo e eu percebo a felicidade que a cultura traz para nossos alunos”, ressalta a vice-diretora