Aos 25 anos, a artista figura entre os principais nomes da cena na capital
Criar a partir da impossibilidade parece uma tarefa difícil. Não para Victor Ruan, popularmente conhecido como Naomi Leakes, que conseguiu encontrar na falta a oportunidade de se encontrar na arte. Nome referência na cena drag queen de Brasília, a artista conquista a todos com a mistura de elementos que permeiam desde as raízes na periferia da capital brasileira a divas pop internacionais.
Com talento, autoestima e carisma como principais características, a performer cresce referenciando o legado feminino, porém com um olhar crítico e próprio para o meio. Vem conhecer! Antes de se aventurar em visuais coloridos, makes impecáveis e performances de cair o queixo, Victor Ruan encontrou na moda uma possibilidade para liberar o lado criativo. Fruto da periferia pulsante, o jovem explica como o período na graduação foi importante na construção da subjetividade.
Cercado de modelos femininas que não seguiam o padrão, Victor cresceu com uma visão própria a respeito da feminilidade. Para a realidade vivida nas ruas da Ceilândia, em Brasília, o que reinava eram figuras robustas e altivas.
As referências acrescentaram aspectos únicos para algo que futuramente se tornaria uma carreira profissional. Victor Ruan não lembra o ano exato em que começou a se montar, mas a sensação de inquietude e admiração evidencia com rapidez. “Assistia no programa da Eliana as drags fazendo bate cabelo. Achava muito divertido, mas não sabia direito o que era.”
Foi a partir das redes sociais que o jovem conheceu o trabalho de outras artistas e se encantou cada vez mais com o universo de drag queens. “Teve um dia que peguei uma paleta de maquiagem da minha mãe, coloquei uma toalha na cabeça e tive a sensação de olhar no espelho e pensar que estava muito feliz”, conta.
Victor compartilha que levou cerca de um ano e meio para colocar verdadeiramente a drag na cena brasiliense. “Eu comecei a fazer como uma forma de escape da realidade, mas veio como uma forma de me afirmar também no meu dia a dia. Até hoje me surpreende, mas consegui um conhecimento artístico e pessoal.
O jovem por traz da drag nasceu em Ceilândia
Naomi Leakes
Victor Ruan da vida à Naomi Leakes baseado nas próprias vivências. “Eu dou um jeito de misturá-las e fazer com que faça sentido para mim. Gosto de criar a minha própria narrativa. A gente vive há décadas de falta de representatividade. Então, a Naomi surge para isso, mostrar as possibilidades a partir da falta”, afirma.
Apesar de ter crescido na periferia, Naomi Leakes explica que demorou para entender o que significava estar nesse espaço. Contudo, ao compreender a potencialidade do que a cercava, não abriu mão mais. “As referências que eu tenho de música, performance e visual são de pessoas que via ao meu redor. Há um respeito das pessoas que por mim. Nunca tive qualquer problema ao andar na rua, por exemplo”, conta.
Em 2023, o trabalho de Naomi Leakes ganhou uma maior projeção. A drag recriou alguns dos principais visuais da turnê Renaissance, de Beyoncé, e fez apresentações icônicas. O talento extrapolou as fronteiras do “quadradinho” e conquistou fãs em diversos cantos do país.
Por fim, Naomi Leakes aponta que a cena drag brasiliense é uma das mais fortes. “A gente faz um trabalho muito especial mesmo com as dificuldades. Desejo cada vez mais levar o que faço para outros lugares e conhecer novas formas de ser drag queens no Brasil.”
Naomi tem milhares de seguidores nas redes sociais
Brasília Fora dos Padrões
A coluna deu início ao quadro Brasília Fora dos Padrões, como uma extensão da série Moda Brasília. Toda semana, apresentamos pessoas que se destacam pelo estilo próprio, a fim de dar ênfase à moda no Distrito Federal, no Centro-Oeste. O objetivo é compilar fashionistas que usam o vestuário como uma forma de autoexpressão e autenticidade. Os nomes são selecionados de forma independente pela equipe da coluna. A iniciativa também aborda pautas com temas para além do segmento fashion, como música, entretenimento e arte.