Moeda perdeu 86,57% do poder aquisitivo, aponta estudo do matemático financeiro José Dutra Sobrinho


Depois de quase 28 anos do Plano Real, a nota de R$ 100, que em julho de 1994 pagava o valor de um salário mínimo e ainda deixava troco, vale agora R$ 13,43. Em julho de 1994 o salário mínimo era de R$ 64,79. Ou seja, uma nota de R$ 100 pagava todo o salário mínimo e ainda tinha troco. Hoje são necessárias 12 notas e ainda falta dinheiro para pagar o mínimo de R$ 1.212.

De acordo com cálculo feito pelo matemático financeiro José Dutra Vieira Sobrinho, com exclusividade para a coluna do R7, “O que é que eu faço, Sophia?”, a inflação de 1º de julho de 1994 até 1º de maio de 2022 foi de 644,55%.

Isso significa que, para adquirir a mesma quantidade de mercadorias e serviços que R$ 100 compravam em 1994, o consumidor precisa desembolsar R$ 744,55, uma perda de 86,57% do poder de compra da moeda.

Dinheiro parado X Dinheiro investido

Para compreender a importância de investir o dinheiro para proteger dos efeitos negativos da inflação, vamos supor que duas pessoas tivessem R$ 100 mil em 1994. Na época, com esse dinheiro era possível comprar um apartamento de bom padrão.

Uma dessas pessoas resolveu guardar o dinheiro no colchão, ou no cofre, ou deixá-lo parado na conta. Tanto faz. Os R$ 100 mil de 1994 hoje equivaleriam, com a desvalorização da moeda, a R$ 13.430, que não dá nem de longe pra comprar um carro zero popular. O carro zero mais barato de 2022 é o Renault Kwid Zen, que sai por R$ 59.890, segundo a lista Autos Carros.

Se quisesse comprar o mesmo tipo de apartamento que valia R$ 100 mil em 1994, a pessoa precisaria desembolsar hoje R$ 744.550. “Ou seja, continuaria com os mesmos R$ 100 mil, mas esse dinheiro teria um poder de compra muito menor”, explica o professor.

Já quem tivesse decidido aplicar o dinheiro colocando-o, por exemplo, na poupança e não tivesse mexido nele até hoje teria agora um saldo de R$ 1,5 milhão. Mais exatamente: R$ 1.534.132, segundo informa o matemático financeiro.

Percepção de valor

O professor lembra que, apesar dessa desvalorização, a percepção de valor do real se mantém. “Apesar de a nota de R$ 100 ter perdido 86% do seu poder aquisitivo, em muitos lugares as pessoas ainda não conseguem trocar essa nota, por ser considerada de valor alto. E a nota de R$ 200, lançada em setembro de 2020, quase nem é vista em circulação”, afirma o professor.

Outro fato interessante a ressaltar é que, enquanto o real perdeu 86,57% do poder de compra da moeda, no período de apenas um ano na época da hiperinflação o Brasil perdeu muito mais do que isso. “Basta lembrar que, em apenas um mês, de 1º de março de 1990 a 1º de abril de 1990, a inflação oficial foi de 84,32%.”