Sentenciadas cuidam das plantas que enfeitam todas as áreas verdes do Distrito Federal. Além da capacitação profissional, o trabalho oferece benefícios como redução de pena


Quem vê Cirsa de Miranda, 59 anos, entre samambaias e jiboias, focada nos cuidados com as mudas, não imagina que ela nem gostava de plantas. Era 7 de março de 2017 quando a interna de um recém-conquistado regime semiaberto entrou pela primeira vez em um viveiro. Lá, criou amor pela jardinagem e, além das flores, passou a cultivar sonhos. “Esse trabalho mudou minha vida”, diz. “Conquistei o regime aberto e quero abrir uma floricultura.”

Cirsa é uma das 96 reeducandas da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap-DF) que atuam nos viveiros da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). A parceria, firmada há três anos, oferece até 200 vagas para internas que desejam trabalhar com jardinagem. Podem se candidatar ao cargo sentenciadas do regime aberto ou semiaberto e aquelas submetidas a medidas de segurança.

 

“É uma parceria muito gratificante. Algumas dessas mulheres nunca tinham trabalhado e aprenderam aqui um novo ofício” – Janaína Gonzales, chefe da Divisão de Agronomia da Novacap

 

Chefe da Divisão de Agronomia da Novacap, Janaína Gonzales conta que as reeducandas cuidam de todas as etapas da produção. “Elas fazem o semeio, o transplante de mudas, a poda, o preparo para plantio”, detalha. “Essas plantas abastecem o Programa de Arborização da Novacap e a ornamentação de todas as áreas verdes do Distrito Federal.”

Para atender a demanda, os dois viveiros da Novacap produzem, juntos, 100 mil árvores por ano e aproximadamente 150 mil mudas de flores por mês. As internas trabalham de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. “É uma parceria muito gratificante”, garante Janaína. “Algumas dessas mulheres nunca tinham trabalhado e aprenderam aqui um novo ofício.”

O acordo oferece mais do que a capacitação profissional. Diretora da Funap-DF, Deuselita Martins ressalta que as internas recebem bolsa ressocialização no valor mínimo de R$ 978,08, vale-transporte e auxílio-alimentação diário de R$ 17. “Além disso, elas são beneficiadas com a remição da pena – a cada três dias trabalhados, é descontado um dia de reclusão”, explica.

Outro bom fruto do programa é a redução no índice de reincidência criminal. De acordo com o secretário de Justiça e Cidadania, Jaime Santana, apenas 5% das sentenciadas inseridas no mercado de trabalho voltam a praticar crimes. “O nosso trabalho é contribuir com o processo de ressocialização de pessoas que estão no sistema prisional”, observa. “Oferecemos oportunidade para que sigam um novo caminho, longe da criminalidade.”