Complexo Integrado de Reciclagem do Distrito Federal é um dos mais modernos do país. Estrutura é utilizada por 11 cooperativas que empregam cerca de 460 catadores
A escolha das entidades foi feita por meio de seleção baseada nos critérios de manifestação de interesse, existência de contrato de triagem com o SLU, por fazer parte da Centcoop e, preferencialmente, ser originária do antigo Lixão da Estrutural, local que atualmente sedia a Unidade de Recebimento de Entulho (URE) do SLU.
O complexo é formado por duas centrais de triagem e reciclagem (CTRs) e uma central de comercialização (CC). Os pontos de triagem têm 2,8 mil m² cada e recebem os resíduos que vêm da coleta seletiva. O material é separado, classificado, pesado, prensado e, então, transportado pelos catadores para a área de comercialização, onde ocorrem o beneficiamento, a estocagem e a venda dos itens.
“Esse lugar é um dos mais inovadores que temos no país para o trabalho dos catadores. Foi pensado e projetado com as condições ideais, de segurança, saúde e conforto, com estrutura coberta, piso adequado, iluminação, banheiros, refeitórios, sala de descanso e escritórios. É o modelo mais próximo do que acreditamos ser ideal”, explica o chefe da Unidade de Sustentabilidade e Mobilização Social do SLU, Francisco Mendes.
Chefe da Unidade de Sustentabilidade e Mobilização Social do SLU, Francisco Mendes: “Esse lugar é um dos mais inovadores que temos no país para o trabalho dos catadores. Foi pensado e projetado com as condições ideais, de segurança, saúde e conforto”
A estrutura foi construída pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), com investimentos de R$ 21 milhões feitos por meio de contrato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por intermédio da Sema.
Impacto socioeconômico
No complexo, os catadores atuam em conjunto: o que é coletado por cada cooperativa é vendido pela Centcoop, e o lucro é rateado entre os trabalhadores envolvidos. Por meio dos contratos com o SLU, as cooperativas conseguem arcar com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) dos catadores e custear as despesas do centro de reciclagem.
De acordo com a presidente da Cooperativa de Trabalho de Reciclagem Ambiental da Cidade Estrutural (Coorace), Lúcia Fernandes, os contratos com o órgão são fundamentais para o modelo de trabalho. A entidade é responsável por 40 catadores que fazem a triagem dos materiais. “Estamos aqui há dois anos, éramos uma cooperativa do antigo Lixão da Estrutural. O complexo nos ajudou, porque aqui é um local definitivo”, conta ela, que também está à frente da Associação Vencendo Obstáculos. O grupo faz a coleta seletiva porta a porta no Cruzeiro e leva ao complexo, para triagem. Atualmente, são 25 associados.
Presidente da Coorace, Lúcia Fernandes: “O complexo nos ajudou, porque aqui é um local definitivo”
O Governo do Distrito Federal (GDF), por meio do SLU, mantém 42 contratos firmados com organizações de catadores, atendendo a 32 cooperativas e associações – tendo em vista que algumas entidades possuem mais de um contrato – que empregam mais de 1,3 mil catadores de recicláveis. Do total de contratos, 22 são para o serviço de coleta seletiva e 20 para o serviço de triagem dos materiais. Na época da inauguração do CIR, em dezembro de 2020, eram mantidos 29 contratos com 22 cooperativas e associações, envolvendo 908 trabalhadores.
O subsecretário de Gestão das Águas e Resíduos Sólidos da Sema, Glauco Amorim, afirma que o complexo trabalha as vertentes econômica, social e ambiental. “Do ponto de vista ambiental, o Complexo Integrado de Reciclagem tem um efeito muito importante, pois consegue exonerar o aterro sanitário, com a redução do que é mandado para lá, e consequentemente aterrado, e ainda amplificando a reciclagem de resíduos”, observa.
“Além disso, gera trabalho e renda, em segurança, para as pessoas que atuam na catação, que são importantes agentes ambientais e, em geral, estão em situação de vulnerabilidade social”, explica. “Já do ponto de vista econômico, auxilia na reintrodução do material na cadeia produtiva, reduzindo a extração de matéria-prima virgem e os impactos da produção. Ou seja, quanto mais a gente recicla, menos a gente extrai da natureza.”
Arte: Agência Brasília
Reciclagem
Vidro, plástico, papel, sucata e isopor são os materiais que podem ser reciclados pelo complexo atualmente. Todos são separados por cor, descaracterizados, descontaminados e triturados ou prensados para comercialização.
Desde a abertura do espaço, foram processadas, em média, 1,3 mil toneladas de resíduos por mês. O termo processamento se refere a tudo o que é recebido. Isso porque, mesmo que o material não seja reciclado, passou por triagem dos catadores. O complexo trata de materiais recolhidos pela coleta seletiva do SLU e pelas cooperativas instaladas no local.
Diretor da Centcoop, Sinomar dos Santos: “A qualidade dos materiais influencia muito o valor pago por eles, e esse valor é repassado para as pessoas que, de fato, fazem acontecer, que é quem está na linha de triagem”
O diretor comercial da Centcoop, Sinomar Alves dos Santos, explica que, quanto melhor o nível de separação do lixo, maior o valor obtido com a comercialização. “Separar entre secos e molhados e não colocar os recicláveis com os orgânicos já nos ajuda muito a dar a destinação correta aos resíduos. Ainda há muito material reciclável indo para a coleta convencional”, pontua.
“A qualidade dos materiais influencia muito o valor pago por eles, e esse valor é repassado para as pessoas que, de fato, fazem acontecer, que é quem está na linha de triagem”, afirma. Cada um dos dois centros de triagem comporta cinco esteiras – que têm espaço para 34 pessoas trabalharem concomitantemente.
O catador Paulo Cezar Lobo diz: “Estou aqui há quase um ano, e já me perguntaram se quero sair, mas não. Aqui me sinto bem, as condições de trabalho são boas e a gente está ajudando o meio ambiente”
Um dos catadores envolvidos na separação é o fluminense Paulo Cezar Lobo, 63 anos. Morador da Estrutural, ele saiu do Rio de Janeiro no começo de 2022 e, no fim daquele ano, conseguiu o emprego no segmento de recicláveis por indicação de um sobrinho.
“Estou aqui há quase um ano e já me perguntaram se quero sair, mas não. Aqui me sinto bem, as condições de trabalho são boas e a gente está ajudando o meio ambiente”, afirma. “Trabalhamos com todos os EPIs [equipamentos de proteção individual]: máscara, luva, óculos”, acrescenta.