Instituto Chico Mendes realiza plano de restauração ecológica em 50 hectares da Floresta Nacional de Brasília


A Floresta Nacional de Brasília (Flona) teve arrancados cerca de 20 hectares de pinus, que avançaram para uma área de árvores nativas do cerrado. O trabalho começou em junho e a meta do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é que sejam extraídos 50 hectares — de um total de 231 — até o fim do ano, quando o local vai receber sementes de 100 mil plantas do bioma brasiliense. A parte a ser recuperada será composta por 80 espécies de árvores, arbustos e ervas. O ICMBio adotou a medida com base no Plano de Manejo da Flona de Brasília, por ser o pinus uma espécie exótica invasora, responsável por degradar o solo e prejudicar o equilíbrio da reserva.

Objetivo é plantar árvores nativas do cerrado e retirar espécie que põe em risco a saúde do solo

O coordenador substituto do Centro Nacional de Avaliação da Biodiversidade e de Pesquisa e Conservação do Cerrado (CBC), Alexandre Sampaio, afirma que as árvores que estão em fase de supressão se espalharam naturalmente na reserva, devido a um plantio da década de 1970. “Serão cortadas em torno de cinco mil plantas, que serão depositadas no próprio local para decomposição, de forma a ajudar na restauração ecológica”, esclarece. Ele acrescenta que a área estará totalmente recuperada a partir de dois anos após a semeadura, que terá início no fim de 2022. As espécies substitutas devem florescer entre cinco e 15 anos.

O plano de restauração ecológica e controle de espécies exóticas invasoras prevê que os analistas ambientais organizem as informações no sistema do ICMBio. Posteriormente, eles deverão debatê-las com o Conselho Consultivo da Unidade de Conservação (UC).

Desde 1994, o ciclista Fernando Cavalcante, 45 anos, frequenta a Flona. Para ele, toda ação feita em prol da natureza é benéfica para a floresta. “Concordo com o planejamento (do ICMBio), porque é melhor reflorestar do que só tirar uma espécie”, opina o morador de Taguatinga.

Responsável técnico pela retirada das árvores, Gustavo Rocha diz que os pinus geraram um fator de degradação. “É algo que está causando um dano ao meio ambiente, prejudicando a qualidade hídrica, acumulando aquele colchão de folha, o que afeta a vegetação e descaracteriza a qualidade do cerrado”, afirma o biólogo com especialidade em preservação, que atua na empresa Tikré Brasil, contratada pelo ICMBio para realizar o serviço.

Gustavo alerta ainda para a capacidade inflamável dos pinus, tanto que gerou um incêndio de 13 hectares na Flona, em 13 de agosto, quando árvores da espécie passaram a cair. “Fica evidente que árvores como essa, de grande porte, formam um grande pavio”, comenta. Na última terça-feira, a Flona registrou uma queimada 170,8 hectares. O Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) levou 17 horas para debelar as chamas.

Invasão

Alexandre Sampaio explica que o problema dos pinus é que eles crescem, abafam e matam as plantas nativas. O analista revela que, na área degradada pelos pinus, mais de 200 espécies nativas do cerrado podem ter desaparecido pelo sombreamento e acúmulo de folhas do invasor sobre o solo.

“Além disso, o pinus causa acidez no solo e utiliza mais água do que as plantas nativas. Isso reduz a infiltração e a produção de água nos mananciais da Flona que drenam para a Barragem do Descoberto, responsável pelo abastecimento de mais de 60% da população do DF”, diz o analista ambiental do ICMBio.

O ambientalista Nelson Rodrigues, do projeto Guardiões do Meio Ambiente, de Sobradinho, também afirma que o plantio de pinus no DF prejudica o cerrado por não ser uma árvore nativa do bioma brasiliense. Segundo ele, é um tipo que necessita de irrigação diária, o que é dificultado pelo tempo seco da capital federal. “Onde se planta essa espécie, para o solo se estruturar de novo, leva até 12 anos, o que não acontece com um ipê, por exemplo, com cinco a oito anos de restauração”, argumenta.