Práticas Integrativas em Saúde (PIS) estão sendo ofertadas para profissionais da Secretaria de Saúde. Por mês, 1.054 servidores são atendidos


Em quase dois anos de pandemia de covid-19, o estresse e a sobrecarga de trabalho fazem parte da rotina dos profissionais de saúde. Na linha de frente, eles não pararam. Pelo contrário, viram a rotina chegar ao extremo. Mas quem está cuidando de quem cuida da saúde da população?

Desde junho de 2020, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) mudou o formato das Práticas Integrativas em Saúde (PIS). Antes voltada para a população, agora a política que promove o autocuidado e a saúde de forma multidimensional (física, emocional, mental, social e espiritual) é ofertada para os servidores da pasta.

 

“Durante a pandemia, iniciamos um processo de monitoramento dos nossos servidores. Percebemos um adoecimento dos nossos profissionais. A cada servidor que se afastava pela covid, nós percebíamos um sofrimento das equipes, o que gerou preocupação”, lembra a diretora da Atenção Primária da Região de Saúde Sul, Regiane Martins

 

Atualmente são ofertadas 17 atividades terapêuticas em 31 regiões do DF, que ocorrem nas unidades básicas de saúde (UBSs), nos centros de atenção psicossocial (Caps), nas policlínicas e nos hospitais e também em formato online.

Os atendimentos podem ser feitos em grupo ou de forma individual. Entre as práticas estão hatha yoga (forma de yoga milenar para acalmar a mente), laya yoga (técnica de relaxamento profundo), terapia comunitária integrativa, meditação, técnica de redução de estresse (TRE), automassagem, reiki, tai chi chuan, musicoterapia, auriculoterapia (terapia alternativa com base no pavilhão auditivo da orelha), fitoterapia, acupuntura, homeopatia e antroposofia.

Atendimento

Desde a mudança, o programa registra 1.054 atendimentos a servidores por mês. Número ainda baixo diante do efetivo da Secretaria de Saúde. “Sabemos que pode ser bem mais. Porém, são muitos desafios em função dos esforços necessários ao enfrentamento à covid-19″, comenta o gerente da Gerência de Práticas Integrativas em Saúde, Cristian da Cruz Silva.

“Em geral, a equipe que promove o serviço de PIS, na UBS, por exemplo, é a mesma que atende a linha de frente do atendimento à população, mantendo todos os demais serviços da unidade”, acrescenta Cristian.

Os profissionais costumam ser atendidos na mesma unidade em que trabalham ou na mais próxima. Os atendimentos são feitos pelos próprios servidores que são capacitados pela SES. Para não interferir no dia a dia de trabalho, as práticas ocorrem em horários alternativos, como no período de almoço e antes ou após o expediente.

O trabalho já tem tido resultado nas unidades em que é oferecido. “Notamos vários pontos de melhoria no processo de trabalho, na integração da equipe, melhores resultados e desempenhos. A gente avalia também uma queda no absenteísmo”, avalia a diretora Regiane Martins. A intenção é expandir as PIS para 100% das unidades de saúde.

Práticas

Na UBS 7 de Santa Maria, o tratamento que tem mudado a vida dos servidores é a auriculoterapia. A prática é conduzida pelo gerente da unidade, o enfermeiro Wendel José dos Santos Araújo. Técnica milenar, ela atua na prevenção, promoção e recuperação, estimulando os nervos cranianos que passam pela orelha. “A gente consegue ter resultados fisiológicos e neurológicos imediatos no tratamento de dor e prolongados quando são doenças”, explica Araújo.

O gerente da UBS 7 conta que a maioria dos servidores que chegam até ele aparecem com estresse, pós-trauma devido à covid-19 e ansiedade. “A gente percebe que o comportamento dos servidores é de pessoas ansiosas e que podem desenvolver depressão. Com a prática, conseguimos equilibrar e diminuir esses sintomas”, observa.

 

“Se cuido de outra pessoa, preciso, primeiramente, me cuidar, senão vou consumir a minha própria força para ajudar o outro. Essa iniciativa do GDF vem promover momentos de autocuidado extremamente importantes e benéficos”, destaca o farmacêutico bioquímico Pedro Luís Silva Pereira

 

Farmacêutico bioquímico da UBS 2 de Santa Maria, Pedro Luís Silva Pereira vai semanalmente à UBS 7 para sessões de auriculoterapia. Ele reserva alguns minutos na rotina para ir até a unidade fazer o tratamento. “Se cuido de outra pessoa, preciso, primeiramente, me cuidar, senão vou consumir minha própria força para ajudar o outro”, afirma. “Essa iniciativa do GDF vem promover momentos de autocuidado extremamente importantes e benéficos”.

Em sua quinta sessão de auriculoterapia, a técnica de enfermagem da UBS 7, Karoline Ediélic, consegue perceber o impacto da prática. “É qualidade de vida. Dores nas articulações são um pouco incapacitantes. A gente não consegue se levantar, render ou praticar as atividades normais. Estou fazendo e estou melhorando cada dia mais”, conta.

Karoline também gosta do fato de poder ser atendida gratuitamente e no ambiente de trabalho. “Faço minha terapia e depois continuo trabalhando normalmente. Não perco tempo indo para consultório fora e nem gasto dinheiro”, acrescenta.

Já na UB2 do Gama, as práticas ofertadas aos servidores são o tai chi chuan e o reiki. O primeiro é uma arte marcial chinesa que une meditação e atividade física, enquanto o reiki trabalha com a imposição das mãos para transferência de energia.

A técnica de enfermagem e facilitadora Juliane Gonçalves responsável pelas aulas de tai chi chuan. “Observamos que durante a pandemia muitos servidores estavam fragilizados. Entendemos que a gente precisava de um cuidado, de um carinho. A melhor forma de ofertar saúde é estar com ela em dia”, defende Juliane.

Os servidores da Secretaria de Saúde que desejam participar das PIS podem procurar as unidades que oferecem as terapias e que estão disponíveis no site. Demais servidores do GDF e a população em geral também podem participar das ações das PIS.