Doações de cestas básicas têm ajudado famílias carentes de São Sebastião. Moradores do Jardim Botânico se mobilizaram para doar cupom de alimentação válido em pequenos mercados locais. Refugiados ajudam confeccionando máscaras

Em meio à crise provocada pelo novo coronavírus, as famílias em situação de vulnerabilidade social são as que mais sofrem. Muitas perderam a única renda familiar ou não contam mais com a merenda escolar para reforçar a alimentação dos filhos. Com todos dentro de casa, em tempo integral, muitas mães têm contado com gestos de solidariedade para garantir a comida na mesa. No Jardim Botânico, os moradores se reuniram para ajudar a região administrativa vizinha, São Sebastião.

O projeto Cesta do Bem, da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Movimento Comunitário do Jardim Botânico, arrecadou cerca de mil cestas básicas. Destas, mais de 700 já foram entregues. “Temos ao lado uma comunidade mais carente, onde muitos trabalham como diaristas e pedreiros aqui no Jardim Botânico. Então, os próprios moradores perceberam que essas pessoas ficaram desassistidas, sem trabalho”, afirma o secretário executivo da Oscip, Ilton de Queiroz Junior.

Diante da pandemia, a forma de doar também mudou. Para evitar o máximo de contato, a doação é feita pela internet e os beneficiários recebem vouchers para a retirada dos produtos em pequenos mercados de São Sebastião. “Muitas pessoas compram cestas em atacadões, e o dinheiro acaba indo para as grandes empresas. Os pequenos comerciantes, que são os que mais precisam,  ficam sem renda”, justifica Ilton. Atualmente, há 400 famílias cadastradas para receber a cesta. A seleção dos atendidos pelo projeto é feita por cooperativas, escolas e igrejas.

João Santana, presidente de uma cooperativa de catadores de São Sebastião, é um dos responsáveis por levar os vouchers para famílias de catadores. Ele destaca a importância de ações como esta. “Estamos fazendo o cadastro das famílias que estão passando por necessidades. A situação é gritante. Muitos ainda não tiveram acesso ao auxílio emergencial. A nossa luta é para garantir o básico, a alimentação”, destaca. Para uma alimentação completa, os beneficiários recebem dois tipos de cesta: uma com alimentos básicos e itens de higiene, e outra com verduras e legumes.

Para Francisca Diana Alves de Oliveira, 41 anos, a cesta veio em boa hora. “É muito ruim olhar para o armário e ver que não tem mais nada. Ainda mais com todo mundo em casa, não ter o que comer é desesperador”, afirma Francisca, que mora com o marido e os três filhos. Com o esposo desempregado e ela afastada do trabalho, sem saber se terá dinheiro para o próximo mês, Francisca ficou muito grata com a ação. “Eu não esperava. Nunca ganhei nada, fiz o cadastro sem saber se ia realmente receber”, conta.

Saber que a ajuda está indo para quem realmente precisa é gratificante para quem doa. Camila Costa é síndica de um condomínio no Jardim Botânico. Ela conta que a mobilização se fortaleceu no momento de pandemia, mas pede que a ação seja recorrente. “A gente sabe que essas famílias que estão recebendo as cestas passam por dificuldades bem antes do novo coronavírus chegar. A pandemia agravou a situação delas”, pontua.

Máscaras

Além do voucher de compras em mercados locais de São Sebastião, o Movimento Comunitário do Jardim Botânico também contempla o projeto Fábrica Social, com o trabalho de refugiados venezuelanos. Nesse momento de pandemia, os esforços estão concentrados na confecção de máscaras de tecido. Segundo Ilton Júnior, a iniciativa visa ajudar tanto as famílias carentes, que não têm como comprar equipamentos de proteção individual (EPIs), quanto os próprios refugiados, com uma garantia de renda.

Mãe de três filhos, a venezuelana Yusklary Gutierrez conta que o trabalho vai ajudá-la a garantir o sustento em casa. “E ainda ajuda a comunidade com a proteção. É muito gratificante poder contribuir de alguma forma”, relata.  Ao todo são quatro refugiados que estão produzindo as máscaras pelo projeto.