Segundo levantamento feito pelo IPEDF, das 87.920 pessoas que fazem parte da comunidade LGBTQIA+ no DF, 1% se identifica como trans
Entre as pessoas trans que moram no Distrito Federal, pelo menos 73% já usaram hormônios, como parte do processo de readequação corporal. Desse total, 22% utilizaram o método por conta própria, sem acompanhamento médico. Ainda de acordo com levantamento inédito, realizado pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPE/DF), 4% deste grupo já usa silicone industrial.
De acordo com a pesquisa, no DF, há pelo menos 87,9 mil pessoas na comunidade LGBTQIA+. Dessas, cerca de 1% se identifica como transgênero.
A educadora Ludymilla Santiago, 40 anos, faz uso de hormônios desde os 20. Moradora de Taguatinga, ela explica que só iniciou o acompanhamento médico há 4 anos.
“O uso de hormônio, para pessoas trans, vai ser para a vida inteira. Eu uso desde os 20 anos. Mas, como o Ambulatório Trans surgiu em Brasília em 2017, o meu acompanhamento começa em 2018. Tenho só quatro anos de acompanhamento e 16 anos sem. E, sim, se você tem um profissional te acompanhando, você tem resultados melhores”, reflete.
Segundo Ludymilla, a porcentagem de 22% deve ser, na realidade, ainda maior. “Com certeza é muito maior. A gente só tem um serviço, o Ambulatório Trans que não consegue atender o DF e o Entorno. Hoje, tem uma demanda reprimida de muitas pessoas aguardando o primeiro atendimento”, ressalta.
Rede pública
Ainda segundo o IPE/DF, entre as pessoas que usaram hormônio, 35% reportaram terem feito pelo SUS e 43% por meio de atendimento na rede particular de saúde.
Para o psicólogo clínico e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Felipe Baére, as pessoas trans recorrem a outros meios de adquirir conhecimento por não terem fácil acesso a médicos especializados. “Isso ocorre por conta dos obstáculos encontrados para ter o acompanhamento profissional adequado”.
“Os riscos são inúmeros, porque uma terapia hormonal precisa considerar a estrutura física e particularidades de cada pessoa. O aspecto emocional também é bastante mobilizado durante esse processo”, diz Baére.
O especialista ainda afirma que nem toda pessoa trans terá vontade de fazer intervenções no corpo, mas ele destaca a importância de se ter mais centros de atendimento voltados à comunidade. “Esses aparelhos [o ambulatório trans e grupos de apoio] estão muito aquém de receber todas as demandas necessárias da população.”
Ambulatório Trans
No âmbito da Secretaria de Saúde do DF (SES/DF), o Hospital Dia, localizado na quadra 508/509 Sul, oferece o Ambulatório de Assistência Especializada às Pessoas Travestis e Transexuais.
O Ambulatório Trans presta atendimento à população do DF desde agosto de 2017. A unidade funciona de segunda a sexta-feira e oferece atendimento multidisciplinar. A equipe é composta por psicólogos, assistente social, endocrinologista, psiquiatra, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogos, urologistas, ginecologistas e enfermagem.
A marcação de consulta de retorno deve ser pessoalmente, nos horários de 7h às 12h e das 13h às 18h. Para primeira consulta, é preciso que haja o encaminhamento a partir de uma Unidade Básica de Saúde (UBS). É necessário ter mais de 18 anos e apresentar documento de identificação oficial ou cartão do SUS.