Acervo inclui preciosidades como o caderno do primeiro recenseamento de Brasília, feito pela extinta Inspetoria Regional de Estatística de Goiás, em julho de 1957


Um conjunto de documentos memoráveis chegaram nos últimos dias ao Arquivo Público do DF (ArPDF). Um arcabouço de registros deixados pela Associação dos Candangos Pioneiros de Brasília, que encerra suas atividades após 30 anos na ativa. O órgão, agora, vai higienizar, inventariar e digitalizar todo este acervo antes de disponibilizá-lo ao público.

Ali estão, nada menos, que a ficha de filiação de Athos Bulcão ao grupo, a de nº 433. A de Atahualpa Schmitz, engenheiro pioneiro na capital e responsável pela construção da pista do aeroporto. E a do médico pediatra Ernesto Silva, fundador da histórica associação em 1992, e um dos primeiros diretores da Novacap.

Nesta sexta-feira (3), o então presidente da entidade, o advogado Yussef Jorge Sarkis, 67 anos, e o superintendente do ArPDF, Adalberto Scigliano, assinaram termo oficializando a doação de todo o acervo documental para a instituição.

O material vai virar, assim, mais um dos fundos arquivísticos privados do Arquivo Público, podendo ser pesquisado por historiadores, jornalistas e entusiastas da criação de Brasília.

A associação encerra suas atividades, agora em junho, com a extinção do Certificado Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e a venda de sua sala, na 915 Sul, onde “famosos” e os primeiros trabalhadores que ajudaram a construir Brasília se encontravam com frequência.

“Deixo aqui uma ‘filha’, vivi essa associação intensamente nos últimos anos”, disse Jorge Sarkis. “Minha melhor missão foi ter sido guardião de memórias de Brasília, mas estou muito tranquilo pois as deixo em ótimas mãos”. Segundo lembrou Sarkis, o grupo perdeu cerca de 30 pessoas nos último triênio e foi se desfazendo com o tempo.

1º recenseamento de Brasília

Três datas eram motivo de festa obrigatória no grupo: o dia do aniversário da cidade, o aniversário de Juscelino Kubitschek (12 de setembro) e a confraternização de final de ano, conta Jorge, que chegou ainda garoto na capital, com toda a família de origem libanesa.

Outra preciosidade deixada ali é o caderno do primeiro recenseamento de Brasília, feito pela extinta Inspetoria Regional de Estatística de Goiás, em julho de 1957. Um levantamento feito antes mesmo da inauguração da capital, que ocorreria três anos depois. Àquela época, segundo o censo, Brasília tinha 6.283 moradores envolvidos nas obras da “capital da esperança”, idealizada por JK.

O material reúne, além das fichas dos 1.699 associados que passaram por lá, fotos, atas de reuniões e até catálogos telefônicos da década de 1960. “Para se tornar membro, o candidato precisava anexar alguma prova de que era pioneiro nessas fichas cadastrais. Então podemos encontrar fotos, holerites, documentos diversos que mostram um pouco do que era Brasília na época. Isso é muito importante”, observa Scigliano.

O historiador Elias da Silva pontua que este material “qualificará e muito” o conteúdo guardado pelo Arquivo Público. “Temos agora um novo acervo que permite acessar não somente a construção de Brasília, mas os perfis pessoais de pioneiros que foram protagonistas da história da capital”, finaliza.