Painel próximo ao plenário da CLDF foi montado com azulejos que haviam sido concebidos exclusivamente para a primeira sede do Legislativo local
Artista cuja forma de expressão mais conhecida é a associação da arte com a arquitetura, com exemplos em várias edificações do Distrito Federal, e um nome estreitamente ligado à história de Brasília, Athos Bulcão passa a nomear o Espaço Cultural da Câmara Legislativa.
Para marcar a homenagem e evidenciar a obra de Bulcão, a CLDF instalou um painel com azulejos que haviam sido concebidos exclusivamente para a primeira sede do Legislativo local. O trabalho está localizado na entrada do Espaço Cultural – uma área de 800 metros quadrados, no foyer do plenário, que já recebeu inúmeros eventos e exposições, inclusive contendo trabalhos do artista.
Athos Bulcão mudou-se para Brasília, no ano de 1958, em pleno processo da construção, e legou à Capital obras que são vistas por toda parte e compõem nossa identidade cultural. Ele é autor de mais de 300 intervenções artísticas, que legitimam a sua incontestável presença. Ao deslocá-las para a paisagem urbana, fez com que seus trabalhos se mantivessem em diálogo permanente com os brasilienses e os visitantes.
Painel de azulejos
A instalação do painel é uma ação do Conselho de Cultura da Câmara Legislativa e foi supervisionada pela Fundação Athos Bulcão, entidade que atua para salvaguardar a obra e a memória do artista. À frente da Segunda Secretaria, unidade responsável pela infraestrutura da CLDF, o deputado Robério Negreiros (PSD) apoiou a iniciativa, salientando os dizeres que constam da placa instalada ao lado do trabalho:
“Os azulejos de Athos Bulcão (1918-2008) são a face mais visível da integração arte-arquitetura, uma das bases de Brasília, cidade que ajudou a consolidar. Ao preservar, neste painel, peças criadas originalmente para sua primeira sede, a Câmara Legislativa reafirma o compromisso de manter viva a obra do artista”.
Trajetória brasiliense
Nascido em 2 de julho de 1918, no Rio de Janeiro, ao completar 21 anos de idade, Athos Bulcão abandonou o curso de Medicina para dedicar-se à pintura. Dois anos depois, já era premiado no Salão Nacional de Belas Artes. Conheceu Oscar Niemeyer em 1943, ocasião em recebeu a primeira encomenda do arquiteto, trabalho não concluído. Em 1948, obteve bolsa de estudos do governo francês e permaneceu em Paris até o ano seguinte, quando retornou ao Brasil. Servidor público, foi requisitado pela Novacap e passou a colaborar em 1957, ainda no Rio, nos projetos da Capital.
No ano de sua chegada a Brasília, foi inaugurada a primeira edificação formalmente estabelecida no sítio onde se ergueria a cidade, a Igrejinha de Fátima, cuja fachada guarda os famosos azulejos do artista. A partir de então, o nome Athos Bulcão ficaria definitivamente imbricado com Brasília e sempre citado ao lado do urbanista Lúcio Costa, Niemeyer e do paisagista Roberto Burle Marx.
Além de contribuir ativamente para fazer de Brasília uma “cidade-arte”, Bulcão teve intensa participação política, seja na UnB, de onde foi expulso em 1965 (sendo reintegrado somente em 1998), ou em movimentos civis pelo retorno da democracia ao País. Em 1966, realizou uma de suas obras mais conhecidas: o monumental relevo externo do Teatro Nacional. Na primeira metade dos anos 1960 também iniciou a colaboração com o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, com quem trabalharia nos projetos da Rede Sarah de hospitais.
Patrimônio Cultural
Embora reconhecido – por críticos, historiadores e teóricos da arte, bem como pelos moradores do Distrito Federal – por ter feito de Brasília uma espécie de “galeria a céu aberto”, Athos Bulcão é autor não apenas de murais, painéis de azulejos e relevos. O conjunto de sua produção reúne desenhos, gravuras, pinturas, fotomontagens, máscaras, figurinos, capas de discos, revistas e outros modos de expressão plástica, muitos deles saídos de seu ateliê brasiliense – transformando-o em um “multiartista”.
Em 1997, em reconhecimento à trajetória de Athos Bulcão, a Câmara Legislativa lhe concedeu o título de “Cidadão Honorário de Brasília”. Por ocasião de seu falecimento, aos 90 anos de idade, em 31 de julho de 2008, a CLDF expediu telegrama à família, amigos e à população do Distrito Federal, no qual se comprometeu a “manter e zelar o patrimônio cultural que a cidade recebeu desse grande artista”.