Animal é natural da Amazônia e pode chegar a três metros de comprimento. Ibram vai investigar possível introdução clandestina da espécie exótica na capital.


Ele é o maior peixe de água doce do mundo. Pode chegar a três metros de comprimento, pesar entre 100 e 200 quilos, e é nativo da Amazônia. No entanto, desde 2015, há relatos de pescadores que afirmam terem visto peixes da espécie pirarucu no Lago Paranoá, em Brasília.

Na última terça-feira (6), imagens de um possível exemplar, com mais de 1 metro de comprimento, circularam na internet. O peixe aparece próximo à superfície, na margem do Deck Norte. Ao fundo, aparece a Ponte JK.

O vídeo circulou entre pescadores, que sustentam que esses peixes estão no Lago Paranoá há algum tempo. O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) informou que vai averiguar se houve introdução clandestina da espécie na região.

Pescadores afirmam que pirarucu, maior peixe de água doce do mundo, pode  ser visto no Lago Paranoá, no DF | Distrito Federal | G1

Relatos

O nome Pirarucu vem de dois termos indígenas: pira, que significa peixe; e urucum, ou seja, vermelho, por conta da cor da cauda do animal.

“Não sei a origem, não sei como foi solto. Em alguns locais, o pessoal compra os filhotes e solta. Acho que não foram soltos desse tamanho. Às vezes, pode ter gente criando em aquário, aí o peixe cresce e não cabe mais e acabam soltando no lago mesmo”, suspeita Wellington Ferreira, conhecido como “Aranha”.

Ele pratica pesca esportiva há sete anos e afirma já ter visto dois pirarucus: um em setembro, e outro em novembro do ano passado. “Existem alguns exemplares no Lago Paranoá. Os dois que eu vi são adultos, de 1,6 metro para cima. São bem grandes mesmo. Quem é pescador ouve muita lenda, mas quando vi, fiquei surpreso”, diz Wellington.

O pescador fez um vídeo em setembro de 2020, do que afirma ser um pirarucu.”Fui atender o celular de um amigo e quando olhei embaixo do meu caiaque, o pirarucu estava parado no fundo. Fui tentar filmar e, nessa de fazer o movimento, acho que pela vibração da água, ele sentiu minha presença e saiu tranquilamente”.

Ainda assim, o pescador conseguiu captar imagens com uma câmera. “Consegui fazer alguns registros dele e pensei em fazer um vídeo sobre isso. Só que não coloquei esse vídeo no ar, justamente porque quando eu filmava o local, meu medo era de outros pescadores, que não tem o mesmo propósito da pesca, irem lá e pegar o peixe”, explica.


Outros casos

Outras filmagens foram feitas em novembro de 2020, e em setembro e julho de 2019, e postadas na internet. Em todas elas, pescadores afirmam ter visto pirarucus pelo Lago Paranoá.

“Parece um pirarucu pelo tamanho e avermelhado dorsal. Ele também nada na superfície para poder respirar. Não é nativo daqui, mas não é impossível ele ter se adaptado bem no lago”, disse o então biólogo da Caesb Fernando Starling. O especialista também mencionou a possibilidade de o animal ser uma “carpa prateada”.

Danos ambientais

A Superintendência de Auditoria e Fiscalização do Ibram informou que “não há registro de nenhuma denúncia, queixa ou informação sobre a existência de peixes pirarucus no Lago Paranoá. Tampouco foi realizada a solicitação de alguma autorização ou licença para a colocação dessa espécie no Lago”.

O órgão alerta que o pirarucu é uma espécie exótica originária da Amazônia e que, no Lago Paranoá, poderia se comportar como um predador, e causar grandes danos ambientais.

“Gera um grande problema toda vez que alguém introduz espécie exótica em um ambiente. É uma ameaça à diversidade biológica porque não tem um predador natural e não tem quem faça o equilíbrio ecológico. As espécies locais ficam ameaçadas de extinção”, destaca Victor Assis Carvalho Santos, diretor de fiscalização da fauna, do Ibram.

Infração

A introdução de espécies exóticas no Lago Paranoá sem a autorização do órgão é infração ambiental. A multa é de R$ 2 mil, acrescida de R$ 200 por cada peixe introduzido. “Se alguém tiver introduzido o peixe de maneira clandestina no lago, isso configura crime ambiental”, alerta Victor Assis.

Ele afirma que o Lago Paranoá é sempre monitorado, mas que analistas ambientais irão a campo tentar localizar o peixe, para constatar se há outros pirarucus na região.

“É de interesse do órgão ambiental constatar se existem pirarucus no Lago [Paranoá] ou não, se é um fato isolado ou se está em nível de reprodução. Se sim, passa a ser preocupante”, diz Victor.


Qualquer denúncia ambiental pode ser feita na ouvidoria do GDF, pelo 162, ou pelo site.