Unidade, que também funciona como centro de reabilitação, foi inaugurada em março deste ano; atualmente, cerca de 30 animais, entre eles um filhote de veado-catingueiro e uma pequena onça-parda, são tratados no local
O Distrito Federal conta com um modelo único de atendimento a animais silvestres, um dos primeiros no Brasil. É o Hospital e Centro de Reabilitação da Fauna Silvestre (Hfaus) do DF, que já prestou mais de 500 atendimentos desde que foi inaugurado, em março deste ano. A unidade fica em Taguatinga.
Atualmente, o Hfaus conta com cerca de 30 animais internados, entre eles um filhote de veado-catingueiro, um filhote de onça-parda, um tamanduá- bandeira, um lobo-guará, um mico e dois saruês. Desde março, já passaram por lá 121 mamíferos, 23 répteis e 356 aves de espécies variadas. A unidade é referência no atendimento de animais silvestres e funciona com uma parceria entre o Instituto Brasília Ambiental, mantenedor, e a Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV), que coordena os trabalhos.
Novos pacientes
Ainda em reabilitação, uma filhote fêmea de veado-catingueiro já está com 3 kg – quase dois quilos a mais do que quando chegou, em 20 de julho, apresentando desidratação e uma lesão por escoriação na cabeça. O animal foi encontrado em Sobradinho, na casa de uma família, que acionou o Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA). Outro recém-chegado é um gambá-de-orelha-preta, que chamou atenção por ter uma pelagem mais clara que os saruês mais comuns.
Outro filhote que passa por reabilitação nas dependências do hospital é uma pequena onça-parda resgatada no início do mês. Encontrada em um lote em Formosa (GO), ela estava desidratada e com problemas de crescimento.
A equipe do hospital também cuida de um lobo-guará encontrado em Santa Maria em 13 de julho. Vítima de atropelamento, ele já passou por cirurgia ortopédica e está se recuperando. Chegaram ainda à unidade aves que tiveram colisão com vidraça e alguns miquinhos que sofreram choques elétricos.
De acordo com o biólogo responsável pelo Hfaus, Thiago Marques, os animais estão lá por motivos variados, e nem sempre é possível determinar como foram feridos. “Eles passam por uma triagem, e cada um é direcionado a um local para ter a melhor recuperação possível”, relata.
“Hoje o Hfaus tem praticamente todos os atendimentos necessários para fazer a reparação de qualquer animal dentro da nossa capacidade”. O hospital conta com recursos como exames laboratoriais (sangue e urina), de oftalmologia, ultrassom e até mesmo raio-X e tomografia.
O Hfaus é dividido em alas para separar os animais e evitar a convivência entre predadores e presas, separando também mamíferos, répteis e aves. Cada animal recebe um tratamento diferente, de acordo com sua condição – tanto os que precisam de hidratação, quanto aqueles que sofrem colisões ou alguma fratura. A bióloga responsável pelo setor de nutrição, Bruna Nascimento, explica que são levadas em consideração as características de cada espécie.
“Todo animal que passa por aqui é encaminhado por um zootecnista para montar uma dieta baseada nas necessidades nutricionais de como o animal chega, caso esteja muito magrinho ou muito gordinho”, explica. “E tudo é descrito em um quadro para que todos possam ter acesso, porque é um hospital que funciona 24h. Assim todos são aptos a preparar a alimentação para esse animal.”.
Retorno ao habitat
Responsável pelo hospital, Thiago Marques lembra que é fundamental evitar contato direto entre um humano e um animal silvestre: “Dessa forma, buscamos sempre facilitar na hora de devolvê-lo à natureza”
O objetivo final do hospital é sempre reabilitar os animais para que sejam reinseridos na natureza – parte que é executada pelo Brasília Ambiental por meio do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas). Após o diagnóstico, os animais passam por tratamento e, caso recebam alta e estejam aptos a se reintegrar na fauna, são encaminhados para devolução à natureza.
Entre os animais mais emblemáticos que já foram atendidos pelo Hfaus e retornaram ao habitat natural estão diversos macacos, um tamanduá-bandeira, um lobo-guará, tucanos, araras e outras aves recuperadas.
“É por isso que muitas vezes os animais estão cobertos ou em ambientes fechadinhos e tapados, para que a gente evite contato com os humanos e que não se acostumem com a gente – inclusive a gente sempre recomenda para o cidadão não tentar fazer contenção caso encontre um animal silvestre, seja qual for o estado, mas acionar o BPMA ou o órgão ambiental local que fará a destinação correta”, aponta Thiago Marques. “Dessa forma, buscamos sempre facilitar na hora de devolvê-lo à natureza.”
Técnica administrativa do Hfaus, a bióloga Vilma dos Reis reforça que os animais chegam apenas por meio do Batalhão Ambiental da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros, lembrando que a unidade não atende demandas diretas dos civis, apenas órgãos estaduais e distritais.
“O BPMA entra em contato conosco, a gente dá o sinal positivo e eles trazem o animal para cá”, detalha. “Fazemos o registro no sistema, onde ele [o animal] recebe uma numeração, e o biólogo faz a identificação dele com o microchip para monitoração ou para identificá-lo caso ele volte ou aconteça alguma coisa com ele nesse trajeto. Depois de ser avaliado pela veterinária e começar o tratamento, é determinado se ele será enviado ao Cetas para soltura após o documento de alta.”
Resgate
Ao se deparar com algum animal da fauna silvestre ferido ou bichos silvestres que precisam de cuidados neonatais – os filhotes -, o melhor a fazer é entrar em contato com o Batalhão de Polícia Militar Ambiental do DF, pelo telefone 190. Os animais silvestres que não apresentam ferimentos também podem ser recolhidos pelo batalhão ambiental, direcionados a órgãos diferentes que fazem a identificação do bicho e a soltura.