No lançamento da campanha à Presidência da Câmara, deputado diz que Casa tem de buscar soluções para os milhões de pessoas que deixarão de receber o benefício
Depois de muito imbróglio nas articulações para composição do bloco, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) deu, ontem, a largada à candidatura para a Presidência da Câmara. Com a chancela do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), da oposição e de partidos de centro, ele busca, agora, avançar nas negociações até as eleições, em 1º de fevereiro.
O grupo de Rossi é formado por MDB, PT, PSL, PSB, PSDB, DEM, PDT, Cidadania, PV, PCdoB e Rede. Juntas, essas siglas somam mais de 260 votos, mas, como a votação é secreta, pode haver traições. Para se eleger, um candidato precisa de 257 votos.
No discurso, Baleia Rossi ressaltou a importância de estar ao lado de diversos partidos, mesmo com ideologias diferentes. “Vivemos um momento histórico, sim, e vale esse registro porque, desde a redemocratização do nosso país, nós não tínhamos um movimento de união de partidos que pensasse diferente formando uma frente ampla”, frisou. “E existe um motivo para isso: nós somos o que a sociedade espera. A sociedade quer mais união, quer mais compaixão, quer mais respeito, quer mais igualdade. A sociedade espera uma luta por democracia e por liberdade.”
Rossi argumentou que o Legislativo não pode ser submisso ao Executivo e defendeu o respeito à ciência no combate à pandemia da covid-19. “Nós temos o dever de fiscalizar e acompanhar as ações do Executivo. Exatamente por isso, a Câmara dos Deputados não pode ser submissa. Se for submissa, não fiscaliza e não acompanha”, avaliou.
Ele defendeu uma retomada do auxílio emergencial. O benefício pago pelo governo federal a trabalhadores informais, por causa da crise sanitária, foi encerrado em dezembro, mas integrantes da oposição querem que o Parlamento retome o programa.
“É importante voltarmos a debater a nossa pauta, votando reformas importantes. E voltar a debater o auxílio emergencial. A pandemia não acabou, e milhões deixarão de receber o benefício. Entendo que temos de buscar uma solução: ou aumentando o Bolsa Família ou buscando, de novo, o auxílio emergencial aos mais vulneráveis”, ressaltou.
Para enfrentar o principal adversário, o líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), Baleia Rossi adotará a mesma estratégia do progressista e pretende viajar o país, nas próximas semanas, para se encontrar com lideranças políticas e buscar apoio. O primeiro embarque vai ocorrer amanhã, rumo ao Piauí.
Crítica
Antes do lançamento da campanha de Rossi, Arthur Lira foi ao Twitter afirmar que o grupo do emedebista vem articulando com Maia para que a votação ocorra de forma virtual. “Nas eleições (municipais), 148 milhões de eleitores tiveram a obrigação de ir às urnas e votar em plena pandemia. Agora, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e seu candidato, Baleia Rossi, querem votar remotamente na eleição para a Presidência da Câmara. Qual é a verdadeira intenção por trás disso?”, postou.
A declaração foi refutada pelo deputado Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), escolhido por Baleia Rossi como coordenador da campanha. “Agora, eu nem falo como articulador da campanha, mas, sim, como membro da Mesa Diretora. Ainda não foi apresentado nenhum texto que regulamenta esse modelo, que seja presencial, remoto ou misto. Ainda não recebemos nenhuma sugestão. A princípio, defendo que seja o modelo presencial, mas não podemos ter ideia fixa. Será uma decisão da Casa”, destacou Bulhões.
Apoios divididos
Partidos com Baleia Rossi*
PT, PDT, PSB, PCdoB, Rede, MDB, PSDB, DEM, Cidadania, PV e parte do PSL
*O PSol é da oposição, mas não declarou apoio a ninguém. A bancada está dividida e tem reunião agendada para o dia 15.
Partidos com Arthur Lira
PP, PL, Republicanos, PSD, PTB, Pros, PSC, Avante, Patriota e Solidariedade**
**O Solidariedade, porém, tem reunião agendada para semana que vem e poderá rever seu apoio
Saiba mais
Benefício a 67,8 milhões de pessoas
O auxílio emergencial foi dado ao longo de 2020 para a população mais vulnerável, como forma de ajudar no enfrentamento dos efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus, mas teve fim em 31 de dezembro. No ano passado, o auxílio foi pago a 67,8 milhões de pessoas e custou R$ 322 bilhões. A ajuda foi possível porque o governo pediu e a Câmara aprovou o estado de calamidade, que permitiu que o Orçamento de guerra fosse autorizado em 2020. O governo, inicialmente, queria pagar R$ 200, mas a Câmara elevou o valor a R$ 500. Depois de um acordo, o Executivo aceitou subir para R$ 600. Nos últimos meses do ano, o auxílio foi prorrogado e reduzido a R$ 300. Sem um substituto para benefício, o governo prepara medida provisória para reestruturar o Bolsa Família dentro do Orçamento de R$ 34,8 bilhões já reservado para 2021.