A eterna Vera Verão, Jorge Laffond é homenageado em nova temporada no Teatro da CCBB


Foi com o intuito de realizar um teatro de cura que a produtora e autora da peça Aline Mohamad resolveu abrir seus arquivos mais íntimos para criar o espetáculo “Jorge pra sempre Verão“. Após temporadas de sucesso no Rio de Janeiro e em São Paulo e passagens por festivais como o Velha Joana, em Primavera do Leste (MS), a peça chega ao Teatro do CCBB Brasília, onde cumpre temporada de 03 a 21 de maio.

Dirigida por Rodrigo França, a história encenada por Alexandre Mitre, Aretha Sadick, e Noemia Oliveira, não fala apenas sobre a obra do artista, mas apresenta uma ficção desenvolvida a partir de sua biografia.

A ideia de escrever o texto, a primeira obra teatral de Aline e em parceria com Diego do Subúrbio, nasceu após ela redigir uma carta póstuma a seu primo Jorge Lafond, falecido precocemente aos 51 anos. “Um dia, ao voltar de uma festa onde me vi atraída por uma travesti, escrevi uma carta que nunca seria entregue ao destinatário.

Nela, um pedido de desculpas, uma redenção, uma luz nos diversos vínculos que eu tenho com meu primo Jorge Lafond. Muito emocionada, a enviei para alguns amigos e, ao acordar, li as respostas: você tem uma linda peça nas mãos“, relembra Aline, que ao longo de sua infância se esquivou de conhecê-lo.

“Fizemos uma reparação histórica, humanizando um dos maiores artistas deste país”, sugere o diretor Rodrigo. Lafond passou por grandes dilemas na história da televisão brasileira e retrata o que é o país em relação à população negra e LGBTQIAP+. Entes eles, a violência de ter que sair do estúdio, para trocar de roupa, pois um padre lá entraria, “um retrato do quão cruel é sermos nós mesmos“, afirma o diretor.

Apesar dos registros sobre a realidade nada fácil vivida por Lafond, o texto tem pontos de respiro com base no humor. Para Diego do Subúrbio, autor da peça junto com Aline, “o processo da escrita veio muito da pesquisa sobre a vida Lafond, que encontra a mesma encruzilhada que a minha e de tantas outras pessoas negras LGBTQIAP+”. “Porém, inclusive, é lembrar que, apesar de todo o processo de resistência que vivemos, não somos regidos somente pela dor.

A figura de Jorge Lafond marcou uma geração, nos movendo até aqui. Falar dele é também falar sobre mim“, reconhece ele. Em cena, Lafond é apresentado em toda sua potente força autônoma, apesar da opressão social a quem ele foi, ao mesmo tempo, uma pessoa exótica e diversão para a família tradicional brasileira. “Tangencial a disso, Silvio de Almeida conceituou o Racismo Recreativo. Fazendo uma livre ressignificação do termo, enxergar Jorge como o gay divertido nos mostra uma Homofobia Recreativa. Sempre foi aceito rir dos gays, tê-los como amigos apenas para os momentos de risada, mas nunca para ouvir suas dores“, demarca Aline.

Serviço

“JORGE pra sempre VERÃO”

Local: Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (SCES Trecho 02 Lote 22 – Edif. Presidente Tancredo Neves – Setor de Clubes Espacial Sul – Brasília – DF)

Temporada: de 03 a 21 de maio de 2023; Horários: de quarta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h; Ingresso: R$ 30,00 (inteira), e R$ 15 (a meia-entrada) à venda em www.bb.com.br/cultura ou na bilheteria do CCBB Brasília.