Mau cheiro impregna local há duas semanas e órgãos ambientais não se posicionam sobre retirada dos bichos


Incomodado com um mau cheiro que vinha do telhado, um casal descobriu um ninho de urubu na laje da casa onde mora, na Asa Sul, em Brasília. De acordo com o servidor público Ítalo Aloizio, o mau cheiro impregnou a casa há duas semanas.

“Achava que podia ser do vaso sanitário, a diarista limpou e o cheiro continuou”, diz Aloizio.
A esposa dele, a administradora Lígia Maria Lepri, desconfiou que houvesse algum animal morto. O marido, então, vasculhou o lugar e descobriu um ninho com dois filhotes de urubu.

O casal acionou quatro órgãos ambientais para resgatar os animais. E, segundo Lígia e Ítalo:

👎 O Corpo de Bombeiros afirmou que não era responsabilidade deles;

👎 O Batalhão de Policiamento Ambiental (BPMA) atendeu ao telefone e desligou durante a ligação;

👎 O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) disse que a ocorrência é da alçada do Brasília Ambiental (Ibram);

👎 O Ibram orientou, por mensagem, que a família faça modificações na laje depois do período de voo livre dos animais.

‘Cardápio das aves’

O forte odor, é causado pelo cardápio típico da espécie: carniça e restos de alimentos em estado de decomposição. A diretora de aves do Zoológico de Brasília, Ana Cristina de Castro, explica que a “mãe urubu” regurgita o alimento para os filhotes, e isso deve estar provocando o mau cheiro na casa.

“Os pais se alimentam de carniça e alimentos em decomposição e os filhotes são alimentados com a mãe regurgitando, então fica esse cheiro forte mesmo. Além disso, uma das defesas do urubu, é a regurgitação, ele joga o alimento para fora, com um odor muito forte”, diz a veterinária.

Ana Cristina alerta que os urubus não transmitem doenças. Além disso, eles devem ter procurado a área urbana por estarem cada vez mais se afastando das regiões nativas.

“Além da gente estar na época reprodutiva, esses locais se assemelham muito ao ambiente natural deles, que geralmente são em cavidades de rochas”, diz Ana Cristina de Castro. O Ibram afirmou que não é da competência do instituto fazer o resgate de animais.

O Ibama destacou que é acionado somente quando o resgate apresenta maior complexidade, como no de grandes felinos. O Batalhão Ambiental da Polícia Militar, até a última atualização desta reportagem não respondeu.

Nota do Corpo de Bombeiros

“A ocorrência em questão não é de competência do CBMDF, o manejo, resgate ou apreensão de animais silvestres é de atribuição de órgãos como: Polícia Militar Ambiental, IBAMA e IBRAM. O Corpo de Bombeiros pode ser acionado em caso de dificuldade de acesso, em apoio aos órgãos responsáveis.”

Nota do Ibama

“O resgate de animais silvestres presentes em ambientes urbanos é realizado pelo Batalhão Ambiental da Polícia Militar, pelo Corpo de Bombeiros e pelos órgãos ambientais. O Ibama é acionado em caráter supletivo quando o resgate apresenta maior complexidade, como no caso de grandes felinos.

Os animais resgatados são encaminhados para os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), para tratamento, recuperação e reabilitação a fim de que sejam recuperadas as condições físicas e comportamentais necessárias para retorno à natureza. Destaca-se que os Cetas não realizam resgate, apenas recebem os animais.

Vale ressaltar que, conforme Lei de crimes ambientais nº 9.605/98, a destruição de ninho é considerado crime ambiental. Eles não podem ser retirados até que o animal cresça e possa sair do ninho. Depois é possível desfazer o ninho e tampar o acesso para que não sejam formados novos ninhos no local.”