Lojas de vestuários tiveram de se adaptar para manter clientes e atrair novos olhares durante a crise econômica desencadeada pela covid-19


A crise econômica desencadeada pela pandemia da covid-19 afetou diversos setores ao longo dos últimos 18 meses. Entre eles, está o segmento de moda, que teve um grande impacto tanto em relação às vendas de lojas de vestuários e artigos de beleza quanto nos eventos.

Para manter os negócios, empresários e empreendedores tiveram de se adaptar à nova realidade com um uso mais expressivo das redes sociais para atingir o público, além de criar novos produtos que se adequassem ao momento vivido pela população.

Para a empreendedora Millena Lopes, 40 anos, a pandemia trouxe uma nova oportunidade para expandir o negócio. À frente da loja Vestido de Chita, especializada em moda feminina para mulheres na faixa de 30 anos, Millena percebeu que, com as restrições impostas pelo novo coronavírus em março do ano passado, a venda de vestidos para trabalho e festas não tinha mais saída. “Então, resolvi produzir pijamas para atender as minhas clientes, que agora estavam mais em casa, buscando mais conforto e, ao mesmo tempo, queriam ficar bonitas”, conta a empresária, que criou uma coleção de cinco pijamas estilo americano.

Como a parte de e-commerce (venda on-line) estava bastante consolidada, Millena não sentiu dificuldades para chegar ao público-alvo da loja. A ideia dos pijamas deu tão certo, que em dois dias toda a coleção foi vendida.

“Tive de abrir uma pré-venda para os novos pedidos. Não esperava essa procura tão grande”, afirma.

Ela conta que de julho para agosto de 2020, as vendas triplicaram. “Foram 200% de aumento no faturamento. O melhor em comparação aos últimos 20 meses anteriores”, destaca Millena. Se for comparar com agosto de 2019, a venda dobrou. Com tanto sucesso, a empresária conseguiu abrir uma franquia em Mato Grosso e, atualmente, fornece pijamas para São Paulo. “Uma vez que você vira referência, não tem como voltar atrás. Com certeza, os pijamas vieram para ficar”, destacou a empreendedora.

A empresária Pity Sullivan, 24, teve de enfrentar um desafio ainda maior. Encarar a abertura de uma loja de vestuário feminino em plena pandemia. “Não foi fácil. A gente teve de encaixar a loja em uma nova realidade.

Fazer entregas, migrar para o digital e proporcionar uma experiência presencial com agendamento, com todo o processo de desinfecção entre uma visita e outra”, relata Pity. Para atrair as novas clientes para a loja Rafaellas, promoções foram feitas, incluindo frete grátis. “Apesar de todas as dificuldades, conseguimos segurar as pontas. Agora, com as pessoas se vacinando, acredito que terá uma melhora muito grande”, afirma. Para ela, a expectativa para as vendas de fim de ano são as melhores possíveis.

Em contrapartida, Maria Luzia Paiva, 52, conta que o último um ano e meio foi bastante difícil para o Maria Lu Brechó, localizado no Polo de Modas do Guará. “Tive de fechar as portas por três meses. Sem poder funcionar, precisei demitir funcionários. Quando retornamos, não consegui recontratar. O movimento está bem fraco”, relata a empresária, que tem a loja de roupas há 10 anos.

 

A empresária Pity Sullivan abriu a Loja Rafaellas, na 305 Norte, em plena crise sanitária da covid-19 -  (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

 

Para ficar

Fernando Lackman, conselheiro da Câmara de Economia Criativa da Fecomércio, explica que a mudança para o digital veio para ficar. “O on-line foi um grande ‘boom’ durante a pandemia. As pessoas sabiam da importância da venda pela internet, mas ficavam acomodadas”, afirma. “Com a necessidade, os lojistas migraram para o on-line.

O que foi bom e ruim para o setor, pois muitos não tinham uma formação para ter um canal de vendas na internet. Foram fazendo as coisas meio que na louca. Então, tiveram marcas que colocavam o produto para venda, mas não explicavam a peça. Por outro lado, aproximou o relacionamento entre lojista e cliente”, destaca Lackman.

O professor e coordenador do mestrado profissional em gestão estratégica de organizações, do Centro Universitário IESB, Thiago Nascimento, frisa que mais de 70% das empresas que atuam no setor de moda tiveram uma queda no faturamento no início da pandemia.

 

“É um setor que, em um primeiro momento, não era prioridade para a população. Então, os profissionais tiveram de usar a criatividade para se reinventar. Começou a se criar uma regionalização dentro do setor, valorizando mais as peças locais, além de promover um novo nicho, criando um espaço para a questão sustentável com a força dos brechós e de peças de maior conforto”, pontua Thiago.

 

Para o Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), o setor de vestuário, apesar de ter sofrido com a crise da pandemia, foi o que menos sofreu entre os segmentos de varejo. Houve uma retração de 4% na perda de faturamento na maioria das lojas. Esse cenário se deu pela característica do setor. Com a chegada das vendas de final de ano, o sindicato espera uma recuperação de vendas de 12% em todos os segmentos.